Vozes Ciganas no Ensino Secundário (Parte II), Entrevistas

TOMÉ NAVARRO, 18 ANOS, 11.º ANO
Entrevista realizada em julho de 2018, em Braga
Entrevista realizada em julho de 2018, em Braga
Observatório das Comunidades Ciganas (ObCig): Podes contar-nos brevemente o teu percurso escolar até ao Ensino Secundário?
Tomé Navarro (TN): O meu percurso foi um bocado difícil porque os meus pais foram mudando de sítio para sítio então perdi aí um ano escolar. Fui sempre lutando, nunca desistindo, porque foi sempre aquilo que eu quis. A única pessoa que lutava por mim era a minha mãe que dizia “o meu filho tem de ser diferente dos outros tem que ter alguma coisa na vida”. Então sempre me disse: “tu não vais sair da escola e foi sempre assim, também me meti na cabeça que era isto que eu queria, era terminar o 12.º ano e é o que está a acontecer.
Tomé Navarro (TN): O meu percurso foi um bocado difícil porque os meus pais foram mudando de sítio para sítio então perdi aí um ano escolar. Fui sempre lutando, nunca desistindo, porque foi sempre aquilo que eu quis. A única pessoa que lutava por mim era a minha mãe que dizia “o meu filho tem de ser diferente dos outros tem que ter alguma coisa na vida”. Então sempre me disse: “tu não vais sair da escola e foi sempre assim, também me meti na cabeça que era isto que eu queria, era terminar o 12.º ano e é o que está a acontecer.
ObCig: Da tua experiência de frequência do Ensino Secundário, o que gostarias de dizer no que diz respeito à tua relação com os e as colegas?
TN: A minha relação com os meu colegas desde o 6º ano tem sido bastante diferente, já me têm aceitado… têm olhado… olham para mim de maneira diferente “ok, é cigano mas temos de lhe dar uma oportunidade”, é bastante bom. Nunca pensei ter assim uma relação com eles.
TN: A minha relação com os meu colegas desde o 6º ano tem sido bastante diferente, já me têm aceitado… têm olhado… olham para mim de maneira diferente “ok, é cigano mas temos de lhe dar uma oportunidade”, é bastante bom. Nunca pensei ter assim uma relação com eles.
ObCig: E com os/as professores/as?
TN: Com os professores é fantástico, eles pegam sempre comigo “és cigano” mas é uma maneira de brincar.
TN: Com os professores é fantástico, eles pegam sempre comigo “és cigano” mas é uma maneira de brincar.
ObCig: E o ambiente da escola?
TN: O ambiente da escola é agradável. Eu gosto de estar lá e é um prazer de estar onde eu estou porque me sinto confortável porque me sinto bem aceite naquele sítio.
TN: O ambiente da escola é agradável. Eu gosto de estar lá e é um prazer de estar onde eu estou porque me sinto confortável porque me sinto bem aceite naquele sítio.
ObCig: E sobre os conhecimentos que aprendes?
TN: Retiramos algumas informações dessas disciplinas para o nosso futuro, são as ferramentas que nos vão ajudar em quase em tudo… a matemática e mais não sei quê, mas vão-nos ajudar depois. Porque depois vou fazer projetos, trabalhar fora e aplico as ferramentas que eu aprendi e que estou a aprender neste momento e aplico-as em várias áreas. Se tiverem consciência vão notar que a matéria que estamos a dar é-nos fundamental para o nosso futuro.
TN: Retiramos algumas informações dessas disciplinas para o nosso futuro, são as ferramentas que nos vão ajudar em quase em tudo… a matemática e mais não sei quê, mas vão-nos ajudar depois. Porque depois vou fazer projetos, trabalhar fora e aplico as ferramentas que eu aprendi e que estou a aprender neste momento e aplico-as em várias áreas. Se tiverem consciência vão notar que a matéria que estamos a dar é-nos fundamental para o nosso futuro.
ObCig: Presentemente existem vários jovens e adultos ciganos na universidade. O que achas disso? Tu estás a pensar ir para a universidade? Porquê?
TN: Acho fantástico haver jovens de etnia cigana no ensino superior porque também é um exemplo para mostrar à comunidade, mostrar à sociedade que nós também temos capacidades e temos os direitos e os deveres de ir para o ensino superior. Já estou a tentar tratar desse processo, é um processo longo, mas contudo e com o tempo consigo chegar lá. Vai ser um bom exemplo, mesmo para a minha família.
TN: Acho fantástico haver jovens de etnia cigana no ensino superior porque também é um exemplo para mostrar à comunidade, mostrar à sociedade que nós também temos capacidades e temos os direitos e os deveres de ir para o ensino superior. Já estou a tentar tratar desse processo, é um processo longo, mas contudo e com o tempo consigo chegar lá. Vai ser um bom exemplo, mesmo para a minha família.
ObCig: O que achas que pode mudar na tua vida continuando a estudar?
TN: Conseguir ir para a Universidade, era aquilo que eu queria. Claro que vou-me sentir diferente, vai mudar a minha vida. A minha mãe vai olhar para mim de outra maneira, vai dizer, “ok, afinal tu conseguiste”. Vai-me mudar a mim e as pessoas que me rodeiam.
TN: Conseguir ir para a Universidade, era aquilo que eu queria. Claro que vou-me sentir diferente, vai mudar a minha vida. A minha mãe vai olhar para mim de outra maneira, vai dizer, “ok, afinal tu conseguiste”. Vai-me mudar a mim e as pessoas que me rodeiam.
ObCig: O que gostarias de dizer aos outros e às outras jovens ciganos, principalmente aos que estão no 3.º ciclo, para os motivar a continuar na escola?
TN: Nunca desistam dos vossos sonhos, sendo eles difíceis ou não, lutem, porque se é aquilo que vocês querem, nunca deixem ficar para traz, agarrem as oportunidades que têm porque depois não vão surgir outras, agarrem naquela oportunidade como se fosse única.
TN: Nunca desistam dos vossos sonhos, sendo eles difíceis ou não, lutem, porque se é aquilo que vocês querem, nunca deixem ficar para traz, agarrem as oportunidades que têm porque depois não vão surgir outras, agarrem naquela oportunidade como se fosse única.
ObCig: Que mensagem gostarias de transmitir à sociedade?
TN: A mensagem que eu gostava de deixar para a sociedade é que comecem a pensar de forma diferente e saber dar oportunidades é bastante bom, porque eu já passei por circunstâncias em que uma pessoa a olhar para um cigano, passou-se com a minha tia, disse está ali uma cigana, pegou na miúda e retirou-a do lugar onde ela estava, isto é ridículo, não é? Existem direitos e deveres que temos de respeitá-los. Então a sociedade devia, olhar de uma maneira diferente para a minha comunidade, porque ainda existe bastante discriminação, eu às vezes ainda fico claro um bocado abalado, porque é difícil olhar para hoje em dia no século XXI e ainda haver pessoas com esse tipo de pensamento.
TN: A mensagem que eu gostava de deixar para a sociedade é que comecem a pensar de forma diferente e saber dar oportunidades é bastante bom, porque eu já passei por circunstâncias em que uma pessoa a olhar para um cigano, passou-se com a minha tia, disse está ali uma cigana, pegou na miúda e retirou-a do lugar onde ela estava, isto é ridículo, não é? Existem direitos e deveres que temos de respeitá-los. Então a sociedade devia, olhar de uma maneira diferente para a minha comunidade, porque ainda existe bastante discriminação, eu às vezes ainda fico claro um bocado abalado, porque é difícil olhar para hoje em dia no século XXI e ainda haver pessoas com esse tipo de pensamento.
ObCig: Queres acrescentar mais alguma coisa a esta entrevista?
TN: Sofremos com racismo, sim sofremos, mas mesmo na nossa própria comunidade fazemos um pouco de discriminação às outras pessoas, eu acho isso um erro. Se nós sofremos porque é que vamos fazer com os outros. Nós ciganos também temos de mudar o nosso pensamento, mudar a nossa própria cultura, as nossas regras porque isto afecta-nos muito na nossa vida. Às vezes as raparigas de etnia cigana querem ter o seu percurso escola e os pais chegam lá “não vais seguir porque és rapariga”, os rapazes já podem. Lá está, estou aqui estou a quebrar os direitos também que as raparigas têm, “por ser rapariga não podes estudar, qual é a tua”… não tem lógica nenhuma, então se o rapaz pode, a mulher pode também. Começar a mudar esse tipo de pensamento porque não estão a prejudicar a vocês estão a prejudicar à filha e o futuro. Porque eles estão a pensar no momento na família e no respeito. Mas estão a tirar o respeito à rapariga, à miúda. Estar no percurso escolar e retirarem-lhe o que ela gosta, não tem lógica nenhuma. Eu sou contra.
TN: Sofremos com racismo, sim sofremos, mas mesmo na nossa própria comunidade fazemos um pouco de discriminação às outras pessoas, eu acho isso um erro. Se nós sofremos porque é que vamos fazer com os outros. Nós ciganos também temos de mudar o nosso pensamento, mudar a nossa própria cultura, as nossas regras porque isto afecta-nos muito na nossa vida. Às vezes as raparigas de etnia cigana querem ter o seu percurso escola e os pais chegam lá “não vais seguir porque és rapariga”, os rapazes já podem. Lá está, estou aqui estou a quebrar os direitos também que as raparigas têm, “por ser rapariga não podes estudar, qual é a tua”… não tem lógica nenhuma, então se o rapaz pode, a mulher pode também. Começar a mudar esse tipo de pensamento porque não estão a prejudicar a vocês estão a prejudicar à filha e o futuro. Porque eles estão a pensar no momento na família e no respeito. Mas estão a tirar o respeito à rapariga, à miúda. Estar no percurso escolar e retirarem-lhe o que ela gosta, não tem lógica nenhuma. Eu sou contra.