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Vozes Ciganas no Associativismo (Parte I), Entrevistas, Bruno Gonçalves

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Vozes Ciganas no Associativismo (Parte I), Entrevistas
BRUNO GONÇALVES
Entrevista realizada em maio de 2019, Figueira da Foz
Observatório das Comunidades Ciganas (ObCig): O seu interesse pessoal pela problemática?
Bruno Gonçalves (BG): O meu interesse pelo associativismo no geral e depois no cigano nasce em 97, portanto eu vivia num bairro social, numa zona deprimida da cidade de Coimbra e portanto começamos com a questão do desporto onde surgiu um primeiro projeto-piloto, que era o futebol clube cigano de Coimbra. Mas nós sentimos que queríamos muito mais porque vivíamos numa zona deprimida onde tínhamos grandes problemas de absentismo escolar e víamos sobretudo muitas crianças ciganas a vaguear pelo bairro e sentimos necessidade em os ajudar, porque já que vivíamos tão, entre aspas, marginalizados, era importante nós também darmos uma resposta e mostrarmos o quanto eramos capazes e a partir daí surge a Associação Cigana de Coimbra que nasceu em 99 e que hoje é uma IPSS e que tem vindo a fazer um trabalho sobretudo na prioridade que é a educação.
ObCig: A sua perspectiva sobre o mesmo?
BG: O associativismo cigano, tal como o associativismo geral que nasce das cinzas, sobretudo o geral, a partir de 75, e nós sabemos que é fraco. E o associativismo cigano, embora tenha dado nos últimos 5/6 anos alguns passos, contínua a ser, portanto, fraco. Isto depende um pouco da capacidade técnica de cada associação. Felizmente temos associações ciganas, duas ou três, com capacidade técnica, porque alguns dos seus membros se instruíram, se formaram e certamente serão eles que no fundo podem ser o grande trampolim para projetar. Porque isso é uma grande dificuldade das comunidades ciganas. Têm uma enorme dificuldade em projetar e se formos competir com outras associações a algumas candidaturas que sejam abertas, certamente que nós somos no fundo os outsiders devido à incapacidade técnica. São duas ou três com alguma capacidade técnica, infelizmente as outras associações estão numa fase de crescimento, mas necessitam cada vez mais de formação.
ObCig: As possibilidades do seu desenvolvimento?
BG: As possibilidades do desenvolvimento do associativismo cigano, penso que, acho que estamos no bom caminho, apesar de estarmos a dar os primeiros passos, mas acredito que necessitamos mais de formação, há que também no fundo trazer uma nova mentalidade do associativismo às antigas associações, também formar a própria comunidade cigana do que é o associativismo, porque muitas vezes têm ideias erradas do que é o associativismo. Muitas vezes já dei com pessoas ciganas a pensar que a direcção é o órgão mais poderoso de uma associação e nós sabemos que não é assim, é a Assembleia Geral. Mas também acima de tudo é importante criar espaços de interação, espaços de informação e mesmo de formação para os dirigentes associativos ciganos. Eu penso que ainda há muito por fazer, embora estejamos a dar os primeiros passos.
ObCig: Os caminhos que esse desenvolvimento pode e/ou deve tomar?
BG: Eu penso que o caminho que deve tomar é mais formação sobretudo aos dirigentes associativos. Eu acho que a comunidade cigana terá que no fundo partir para essa, porque é um novo desafio, mas eu penso que através das associações possamos conseguir organizar muito mais a comunidade de forma a conseguir portanto alcançar alguns objetivos que é a aproximação às comunidades, à sociedade maioritária. Eu acho que isso será essencial, mas a formação é essencial, a formação e a instrução escolar, eu acho que essas são as principais plataformas que devemos atingir para que possamos desenvolver melhor o associativismo, sobretudo com as comunidades ciganas.
ObCig: O que pode ser feito para o melhorar?
BG: Para melhor eu penso que é lançarmo-nos na questão da instrução escolar, criar e possibilitar que haja acções de formação na área do associativismo. No fundo também trocas de experiências com outras associações, podem ser nacionais, mas também internacionais e sobretudo ciganas, sobretudo de Espanha, estão tão perto e que têm também no fundo uma grande experiência a nível do associativismo. Sobretudo isso, mas também continuar com alguns tubos de ensaio como têm sido os PAC´S e os FAP´s do ACM, acho que têm sido excelentes tubos de ensaio para que nos possamos organizar e melhorar a capacidade na área do associativismo. 
ObCig: Articulação entre: a) associativismo, b) humanização socio-cultural, c) políticas públicas; direitos humanos, construção de uma cidadania activa, crítica, emancipatória e humanista.
BG: São várias palavras, cada uma delas muitas vezes estão unidas, há uma articulação entre uma delas, entre várias, as várias que aí estão como foste dizendo, mas acima de tudo trabalho, muito esforço para conseguirmos esses objetivos. Acho que sem isso nós não vamos conseguir. E muito sacrifício, capacidade de resiliência acima de tudo, sem isso não vamos conseguir atingir algumas metas que todas essas palavras, portanto trazem. Associativismo uma porta aberta para o impacto de políticas; Humanização socio-cultural, portanto eu também creio que é uma oportunidade de desmistificar imagens e preconceitos; políticas públicas deveriam ser mais e melhores para a comunidade cigana, penso que se tem vindo a fazer alguma coisa, mas acreditamos que mais e mais poderiam ajudar, poderiam ajudar nesta fase dos primeiros passos que estamos a dar; os direitos humanos são essenciais, sem eles certamente não conseguimos construir a harmonia na sociedade que cada vez mais é diversa; Portanto essa construção faz-se através de várias plataformas desde as políticas públicas, o associativismo, mas também se faz pela predisposição das pessoas para construírem um mundo melhor; portanto a construção de uma cidadania activa, humanista, emancipatória depende muito, no fundo, também das políticas que se fazem, mas acima de tudo, também da predisposição das pessoas para construir um mundo melhor, uma sociedade melhor.

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